segunda-feira, julho 24, 2017

sexta-feira, julho 21, 2017

2ª Divisão Nacional de Futsal. Que futuro, que caminho a seguir?

Já faz algum tempo que não escrevo nenhum artigo de opinião, mas sinto chegar a altura de colocar o dedo na ferida mais uma vez.

Chegou o momento de se dizer a verdade, dos Treinadores terem a coragem de dizer o que pensam sem receio de represálias, ou com medo de hoje, amanhã ou em outro dia qualquer não poderem ir para este, aquele ou outro clube em virtude da frontalidade.

Eu, em 24 anos de futsal, 13 como jogador, 11 como treinador, já vivenciei de tudo. Desde 1993 que ando neste mundo fantástico que é esta nossa modalidade. Passei por muitas fases e todas elas distintas: joguei numa 1ª divisão projetada em duas zonas, norte e sul. Fui, dos muitos jogadores, formados em futebol de 11, que vivi na pele a fusão em 1996-97, entre o futebol de 5/ futsal. Essa fusão obrigou os jogadores, que até então podiam jogar futsal ao sábado e futebol de 11 ao domingo, em clubes diferentes, a realizar uma escolha, ou uma modalidade, ou outra. Eu, felizmente, optei pelo futsal.

Essa opção levou-me a vivenciar experiências de distrital, 3ª, 2ª e 1ª divisão, quer como jogador, quer como treinador. Desde a alteração de uma 1ª divisão em duas zonas para uma só nacional, de uma 2ª divisão dividida em apenas duas séries para sete, de uma 3ª divisão de 4 séries passar para seis até ser exterminada.

Passei pelas dificuldades inerentes ao que era estar numa 1ª divisão: muito difícil para qualquer equipa que chegava da 2ª manter, ao contrário do que atualmente acontece, onde se torna muito mais fácil. Pela qualidade de duas zonas da 2ª divisão nacional, onde em 28 equipas, subiam 4 e desciam oito. Agora, em 68 sobem 2 e descem 18 ou 20, conforme os apetites de quem manda.
Muito mais difícil subir à Liga Sportzone, muito mais difícil manter na 2ª divisão. Passei uma única vez pela 3ª divisão, com qualidade acima das distritais, mas necessária para as equipas ganharem alguma maturidade e experiência para depois vivenciarem o que é estar pelo menos numa 2ª divisão. Era uma ponte para se atingir um caminho para se conseguir dar luta na divisão superior, caso esse clube subisse. Neste momento, essa travessia não existe, foi completamente exterminada desde a época 2014 com a entrada do propalado “Plano Estratégico para o Futsal”. Agora, é muito mais fácil para uma equipa do distrital subir para uma 2ª divisão, mas na maior parte das vezes, muito mais difícil de manter. Pois, a travessia da experiência deixou de existir.

Mas vamos então ao cerne da questão, ao que me levou a escrever este artigo de opinião, que acredito ser a de muitos, mas que é a minha sem dúvida.

Qual o caminho a seguir para a 2ª divisão nacional atual? Qual o futuro para a mesma?
O primeiro ponto e mais importante á alterar os quadros competitivos.
É dizer: “erramos”, a ideia de exterminar a 3ª divisão não surtiu os efeitos desejados e encontrar uma alternativa. Mas a alternativa não pode ser uma 2ª B ou uma Liga de Honra, pois estamos fartos de andar ao reboque do futebol de 11. A verdadeira alternativa é voltar a criar uma 3ª divisão, doa a quem doer. Olhem para nós com olhos de ver e não como um enteado do próprio pai. Ou então, deixem as pessoas do futsal mandar no futsal e fazer renascer a federação portuguesa de futsal.

Dentro dessa alteração, do renascimento da 3ª divisão, a 2ª tem que voltar ao formato antigo. Nós, Treinadores, temos de fazer ver isso aos clubes que treinamos, para que os nossos clubes façam força perante os nossos representantes. E aí, os nossos representantes, as associações distritais, tem de mostrar a independência do “grande chefe”. Tem de saber emancipar-se e atingir novamente o seu estatuto, para não apenas dizer amém. Nós, Treinadores, não devemos ter medo de dizer o que pensamos ser o melhor para o nosso futsal. Não devemos ter medo de sofrer as represálias de chegar ao ponto de recear não ter clube na próxima época pelo fato de termos sido corajosos, frontais e verdadeiros sobre o nosso futsal. Porque fomos nós, treinadores, jogadores, clubes que criamos o futsal. Não foi a FPF. Ela apenas se serve de nós para continuar a encher os bolsos. E continuam assobiar para o lado. Porque os verdadeiros problemas ninguém no-los resolve. Ou então digam-me como é possível vários clubes que apenas apresentam jogadores formados no clube nos seniores pagarem multas atrás de multas porque não tem jogadores formados localmente. Isto é o quê? Brincar connosco, brincar com os clubes, brincar ao futsal. É apenas um exemplo, há mais.

Eu, felizmente, sou mais um dos muitos treinadores que tenho a felicidade de não ter que dobrar a espinha para ficar bem visto nos corredores. Sou um dos que já foi atingido por anteriormente ter colocado e dedo na ferida e exposto uma situação grave, que de certeza continua a ocorrer por esse país fora. Fui atingido, mas conseguir reerguer-me, consegui voltar e não ficar esquecido. Aí, tenho de agradecer a quem apostou em mim e me fez voltar à minha modalidade. Mas o problema subsiste: continua a ver muitos treinadores e muitos dirigentes a dar entrevistas sem pôr o dedo na ferida do futsal.

Neste momento, esta 2ª divisão não cabe na cabeça de ninguém, a não ser de quem a quis alterar. Neste momento, esta 2ª divisão coloca as equipas a morder os calcanhares umas às outras, para depois irmos com metade do trabalho que conseguimos, indo com a incerteza de saber se mantemos, mesmo tendo realizado uma primeira fase fantástica. Existem ainda aquelas equipas no que apenas fazem uma aposta mais séria em jogadores na 2ª fase para conseguir o objectivo no espaço de 1 mês e meio, objectivo esse não conseguido nos seis meses anteriores. Qual a lógica disto?

Depois ainda temos outra questão: de existir equipas que ganham 2 jogos na 2ª fase e o objectivo está conseguido e depois já ninguém quer nada com o resto, e as direcções a pagar, ou subsidiar esse resto. Tem lógica?

Mas o que realmente não faz sentido é apenas subir duas equipas para a Liga Sportzone. Não faz sentido gastar-se mais para subir do que para manter na 2ª divisão, pois haverá sempre um 2º classificado das seis séries continentais, que muito tenha gasto para tentar subir que sabe que poderá não conseguir, pois o 1º classificado da série açores vai entrar nessas contas. E já agora, porque a AF Madeira não aceitou criar ou entrar com uma Série Madeira na 2ª divisão, já alguém alguma vez se questionou? E porque de uma associação bater o pé à FPF e as restantes não?

A grande verdade é que quando se disse que os custos iam ser reduzidos com este quadro competitivo, quando se disse que se ia conseguir que não houvesse mais desistências de equipas e que a qualidade competitiva ia aumentar, apenas se fez isso: disse-se. Não se trabalhou para tal, porque mais uma vez são os clubes que tem de olhar por si com todas as dificuldades inerentes ao processo em que se está inserido.

Quando se fala do diferencial financeiro duma distrital para uma 2ª divisão, o mesmo não está relacionado com as taxas de jogo e no gasóleo para os jogos, está sim nos subsídios que tem de se pagar aos jogadores para poderes ser competitivo. Porque se não conseguires ser competitivo, podes esquecer, pois a passagem pela 2ª divisão não passará de mais do que isso, de uma breve passagem que depois poderá trazer consequências no futuro do clube.

Outro problema inerente a este processo é a formação das séries: não existe um clube que saiba ou, em que série irá estar inserido ou, quais as equipas que vai defrontar. Depois é à vontade do freguês. Porque se atentarmos às linhas demográficas do país, há qualquer coisa que não bate bem, por exemplo: na época 2015-16 o Mogadourense da AF Bragança  estava inserido na série B, o Caxinas e o Póvoa na série A. Na época anterior o Mogadourense passou para a A, trocando com o Caxinas que passou para a B. Mas porque o Póvoa ficou na A? Para a série B não ter 10 equipas da AF Porto? E porque os Amigos  Abeira Douro são a única equipa da AF Vila Real a permanecer na série B e todos os outros envolvidos não? E porque a AJAB Tabuaço esteve há dois anos atrás na série B e agora poderá ir para a C, se está mais perto dos clubes da B? Só porque pertence à Af Viseu? Não se entende, não tem lógica. Tal como a situação do Póvoa e do Caxinas, que pelos vistos este ano vão estar inseridas na série B…qual a lógica? Qual o verdadeiro sentido?

Apenas dou exemplos sem querer ferir susceptibilidades de ninguém, nem dos clubes dados como tal.

Uma coisa é certa: com este quadro competitivo os gastos continuam iguais ou superiores, as equipas continuam a desistir e a qualidade competitiva não aumentou tanto como era previsto. Há séries equilibradas, outras nem tanto.
Isto para referir aqueles clubes que mesmo após ter sido campeões distritais acabam os seus projectos não subindo; ou os outos clubes que mesmo ficando nos lugares abaixo e com convites por parte da FPF e seus Associados, não aceitam ir para a 2ª divisão nacional. Provavelmente não só para ficar endividados, mas também e principalmente para não colocar em causa o futuro do clube.

Até quando vamos ter de levar com isto, até quando os manda chuva vão querer tapar os olhos com uma peneira e deixar de olhar só para as selecções nacionais ou a liga sportzone?

Até quando?

Por: Fernando Parente