Paulo Barroqueiro, apesar de jovem (38 anos), já leva 6 anos de treinador.
Realizou a melhor época ao serviço do “seu” Paivas, vindo todos os anos a mostrar novos valores para o nosso futsal.
Abordámos Paulo Barroqueiro para esta entrevista, e o treinador Paivense aceitou, prometendo que não fugiria a nenhuma questão.
Começemos por uma provocação.
Tens mau feitio ou és muito exigente com os jogadores?
É verdade que tenho pouca tolerância aos erros, inclusive aos meus, isso faz com que muitas vezes esteja um pouco chateado, embora pense que o papel de treinador seja um pouco esse, exigir e tentar extrair o máximo das pessoas que com ele trabalham. Também não suporto jogadores com falta de empenho, principalmente os que têm potencial.
Os jogadores ainda não perceberam que têm através do futsal a oportunidade de passar pela vida com algum destaque, não sendo somente um número ao alguém totalmente anónimo, pois o desporto proporciona isso, dando-lhes o futsal visibilidade e a possibilidade de poderem estar incluídos entre os melhores a qualquer coisa, pois isso é algo que no desporto é perfeitamente quantificável, causando-me depois alguma confusão as pessoas não lutarem por esse objectivo. Voltando um pouco atrás e falando novamente da pouca tolerância que tenho aos meus erros, devo dizer que o questionarmo-nos constantemente é o único caminho para a perfeição, que nunca vamos conseguir alcançar. Portanto vou ser sempre muito chato para os jogadores.
Na tua opinião quais são as qualidades de um bom treinador?
O bom treinador é aquele que ganha. Isto é um lugar comum mas não deixa de ser verdade, embora existam algumas qualidades que, em teoria, me pareçam ser importantes.
Acima de tudo está o conhecimento, porque um treinador que não tenha conhecimento nunca vai ser respeitado, depois penso que um treinador tem que saber efectuar as escolhas certas na altura de constituir o plantel, deve estar o mais próximo possível dos jogadores, sem que isso signifique menor autoridade e disciplina. Tem também que ser sincero e ter muita coerência porque estas são qualidades apreciadas pelos jogadores, tratar todos de forma igual e ser motivador, portanto, conseguir mexer com a parte psicológica dos jogadores. No fundo conseguir estabelecer uma empatia adequada com os jogadores, mas esta resposta é genérica e qualquer pessoa podia dá-la.
Em termos mais específicos o treinador deve idealizar um modelo de jogo onde o sistema ou sistemas (de jogo) escolhidos funcionem e, fundamentalmente, deve construir exercícios de treino que visem essa escolha. Penso que esta é a grande questão dos treinadores, porque não adianta ter em teoria algo para se fazer nos jogos se os exercícios de treino não visam a prática e aperfeiçoamento dessa teoria.
O que pensas que poder ser feito para melhorar o futsal no Distrito de Setúbal? Em termos gerais temos que ser muito mais organizados para transmitir uma ideia cada vez mais credível da modalidade, isto é muito importante porque os patrocínios são tão escassos e temos tanta gente e modalidades a concorrer com o futsal, que o critério de selecção será de certeza a credibilidade e organização, para isso parece-me importante os clubes organizarem-se.
As pessoas só conhecem o superficial esquecendo-se daquilo que por vezes não é tão visível, mas muito mais importante para o desenvolvimento da modalidade.
Os treinadores têm um problema para resolver relacionado directamente com o jogo, é fazermos com que as nossas equipas e jogadores executem as acções a nível táctico e técnico, de forma a não darem a sensação que qualquer pessoa as podia executar, começando logo por aquilo que é mais essencial: passe, recepção e condução de bola com ambos os pés, finalização, colocação de remate, etc.
Temos que fazer com que as pessoas admirem as equipas e os jogadores por executarem algo que só está ao alcance dos predestinados ou de quem trabalha muito, pois é assim que os espectáculos funcionam e fidelizam quem os vê.
É evidente que tudo isto está relacionado com o número de horas de trabalho e com a qualidade e empenho nesse mesmo trabalho.
Quais são as razões que levam sempre à renovação com o CCD PAIVAS?
Primeiro pelo facto de EU GOSTAR MUITO DO CCD PAIVAS, segundo por ter algo ainda a conquistar por este clube e sobretudo poder MOSTRAR CADA VEZ MAIS NOVOS VALORES PARA O FUTSAL DISTRITAL, porque o que me interessa é trabalhar onde sou bem aceite e onde me deixam desenvolver o meu trabalho.
Paulo, para quem está há 6 anos no Paivas, e inclusive, já saíram do clube jogadores para equipas do nacional, este ano mais uma vez, ficaste sem o teu treinador adjunto, já que este recebeu um convite para ir para uma equipa que subiu este ano para o nacional. Pergunto é gratificante para ti? Tu nunca recebeste nenhum convite para saires do Paivas? Para mim, é sempre um orgulho ver sair pessoas, para outros clubes e este ano mais uma vez para o nacional, é sinal que no Paivas trabalha-se bem, não querendo puxar a brasa á minha sardinha. Trata-se de uma pessoa trabalhadora, incansável naquilo que faz, um grande Homem, um bom amigo, que terá sempre as portas abertas no nosso clube.
Não vou revelar se tive ou não algum convite para sair do Paivas, e como já disse anteriormente não estou preocupado com isso. As pessoas sabem onde estou, sabem com aquilo que podem contar, portanto no futuro podem falar comigo sem qualquer problema nenhum, se o projecto for aliciante tanto para para mim como para o clube em questão, não vejo o porquê de não falarem, porque também quero evoluir, conhecer outras pessoas, outros jogadores, outros clubes. Mas neste momento, estou bem no Paivas e o futuro a Deus pertence.
O CCD PAIVAS ficou em quinto lugar, qual a avaliação que fazes da época? Foi uma época muito boa, uma primeira volta muito melhor que a segunda, sinto que os jogadores evoluíram muito, houve de facto vários jogos sobretudo na 2ª volta que não demos tudo o que tínhamos para dar, mais uma vez, houve lesões, jogadores que saíram para o estrangeiro, o que veio dificultar e muito o rendimento da equipa.
Este foi o melhor plantel que o CCD PAIVAS já teve?
Já tive a oportunidade de o dizer e volto a fazê-lo, para não interpretarem mal as minha palavras. Quando nós dizemos plantel, referimos-nos a um conjunto de jogadores, não há dúvida nenhuma que este conjunto de jogadores em termos individuais são do melhor que o CCD PAIVAS já teve. Agora de um excelente plantel, para uma excelente equipa ainda vai um bocado e é isso que teremos de provar num futuro próximo.
Houve momentos este ano em que pensei que tinha um excelente plantel, mas também alguns jogadores que se consideravam imprescindíveis á equipa. Tive de explicar que eu preferia ter uma equipa de 15 trabalhadores incansáveis e a pensarem no colectivo do que 15 pessoas que só olham para o seu umbigo e em que o individual é o mais importante.
Esta época, como nas outras tens recebido criticas ou nem por isso?
Não estou minimamente preocupado com as criticas que me fazem. As pessoas são livres de falar o que quer que seja, tenho as costas largas, e deixo um recado a essas pessoas, que em vez de me criticarem, se viessem ajudar ficava-lhes muito grato.
Tens obsessão ou gosto pelo futsal?
Eu tenho o gosto pelo futsal. Não ganho dinheiro nenhum, ando por carolice. Se tivesse obcecado pelo futsal já não estava no CCD PAIVAS de certeza absoluta.
O CCD PAIVAS já está a preparar a próxima época?
Sim. Vamos ter de apostar mais na formação, para o ano vamos incluir mais jovens com muito valor, vamos trabalhar com um conjunto de atletas com experiência e dar mais espaço a estes jovens.
Não há dúvida que o futuro do CCD PAIVAS vai passar em apostar em novos valores.
O CCDPAIVAS ano após ano aposta claramente na juventude. Os riscos são calculados?
Claro que são. O Paivas todos os anos apresenta novos jogadores sobretudo júniores, com enorme valor, mas, desde que o queiram fazer e julgo que o nosso clube é uma boa rampa de lançamento, e seria um disparate não aproveitar. No futuro, se o Paivas mantiver este projecto, vai com certeza manter o núcleo forte que vai ganhando uma enorme consistência de ano para ano.
Qual a importância do Pássaro, Russo, Angélica num grupo de trabalho com estas componentes?
São alguns dos jogadores desse tal núcleo forte que falei atrás, não gosto de individualizar mas atendendo aos anos que têm neste clube e por aquilo que poderão representar para os mais novos, são um bom exemplo para os mais novos, mas todos eles sabem que apesar da admiração e respeito que tenho por todos eles para mim fazem parte de um colectivo.
Trocavas o teu grupo de trabalho por qualquer um dos outros?
Qualquer treinador que se preze dirá que o seu grupo é o melhor e eu não fujo à regra, mas eu apesar de o achar, quero melhorá-lo mais, até onde me for possível.
O Futsal é uma modalidade com muito futuro ou pensas que ainda está demasiado dependente de algumas pessoas para poder caminhar tranquilamente?
Acho que a modalidade tem o futuro garantido.
Por cada equipa que vai acabando com a prática da modalidade muitas outras vão surgindo, agora o importante é essas equipas avaliarem as suas possibilidades e não quererem de um dia para o outro entrar em projectos megalómanos como infelizmente vão surgindo. Claro que ainda há clubes que têm que depender de pessoas que os sustentem. Mas também já há quem entre no futsal para se servir e se auto promover e não para servir a modalidade.
Quais são as tuas grandes ambições pessoais na modalidade?
Continuar a minha aprendizagem e a evoluir o mais possível em todos os campos, e todos os anos conseguir chegar em primeiro em todas as competições.
Se te dessem a oportunidade de enveredares pelo profissionalismo aceitarias e correrias esse risco ?
Dependia que projecto fosse, e tinha que ver os prós e os contras, para abraçar o profissionalismo do futsal é obvio que o risco era muito grande, mas se as pessoas que me oferecessem esta hipótese fossem honestas e sérias, porque não.
Qual foi(ram) a(s) equipa(s) que, esta época, te encheu a vista? Porquê?
Gostei muito dos INDEFECTIVEIS, vi alguns jogos deles e contra nós, foram dois jogos muito bons. No pavilhão onde actuam, não só pela moldura humana, que enche quase sempre.
Uma equipa forte, com uma boa dinâmica de jogo, devido aos bons executantes que possui, jogadores rápidos e inteligentes e com uma grande qualidade técnica. No entanto, outras equipas também gostei muito de ver, estou a falar do MIRATEJO, AD QUINTA DO CONDE, UNIÃO DA QUINTA DO CONDE, VALE CAVALA, ÁGUIAS UNIDAS, todos com bons executantes e muito bem orientadas.
Um dos maiores problemas que te colocam, prende-se com a gestão do plantel. Não vale a pena esconder que os teus jogadores querem sempre ser titulares e jogar muito tempo. Como tens gerido estas personalidades?
É muito difícil, mas o fundamental é deitar-me sempre com a consciência tranquila. Sentir que as minhas opções foram sempre no sentido de, na minha opinião, terem sido as melhores para a equipa.
Respeito muito cada jogador, mas os nomes e os estatutos não me dizem nada. As minhas decisões são baseadas na postura e no nível competitivo que demonstram nos treinos e nos jogos. Quem está bem, joga; quem não está bem, não joga ou joga menos. Já tivemos casos destes, em que alguns jogadores não estavam bem e, apesar de estarem habituados a jogar sempre muito tempo, não o fizeram com a frequência que gostariam.
Repito outra vez e sempre será assim, ninguém pode pensar em si próprio mas sim, no colectivo. Acredito em grupos solidários, com todos em prol da equipa.
Tenho gerido o plantel com bom senso e honestidade e, a partir daqui, os jogadores só têm de respeitar as decisões porque é desta simbiose que provém o sucesso. O papel da equipa técnica é sempre muito difícil, mas tornar-se-á menos se os jogadores ajudarem, já que têm de trabalhar sempre mais, mesmo quando se sentem injustiçados.
A selecção acaba por ser feita naturalmente até porque é o trabalho dos jogadores que me diz quem joga, são eles que acabam por definir a equipa, mas é evidente que há casos pontuais, e abrimos uma ou outra excepção.
Quais são as condições que aches que são ideais para um clube de Futsal poder subir de Divisão?
Acima de tudo ter um grupo de trabalho unido, que se respeite, que seja responsável, já que os clubes gastam muito dinheiro por ano para competir.
Em segundo lugar, arranjar um bom patrocinador, para ajudar a custear estes mesmos custos, e dar as chamadas condições que todos os jogadores gostam(equipamentos novos, sacos, fatos de treino, ténis para jogar, ter um bom seguro, bolas para treino, pavilhão para treinar e jogar, enfim toda a logística necessária que todos nós apreciamos).
Em terceiro lugar, que haja no clube pessoas que gostem mesmo da modalidade, e que apoiem a equipa em tudo o que é necessário.
Mas o mais importante e todos o sabemos, é o dinheiro, que nem todos os clubes podem oferecer aos seus atletas, que é sempre uma mais valia para todos.
Quais são os jogadores que para ti se evidenciaram ao longo deste campeonato?
Para mim, foram estes os jogadores:
TIAGO(Vale Cavala – GR))
CAMÕES(Miratejo - GR)
DANI(ADQta Conde - GR)
JÓ(AD Qta Conde - Universal)RAMALHO(Miratejo -Universal),
RUIZINHO(Indefectiveis - Pivot)
JOÃO CARLOS(São Francisco - Ala)
PENILO(Águias Unidas - Ala)
GAGÃO(Águias Unidas - Ala)
ZÉ SEMEDO(CCD PAIVAS – Ala/Pivot)
DURVAL(CCDPAIVAS - Ala)
HELDINHA(UDR QTA CONDE - Pivot)
NELTON PONTES(MIRATEJO - Universal)
PUTO PEDRO(UDR QTA CONDE - Universal)
NELSON(Indefectiveis - Fixo)
E em relação aos treinadores?
Olha neste campo, temos o Ricardo Fernandes dos Indefectiveis, o José Pegacho UDR Quinta do Conde, o Rogério Gaspar da AD Quinta do Conde, e o Eduardo Marçal do Miratejo, são estes os que mais se evidenciaram este ano.
E a tua relação com eles?
Com alguns sim, quase diariamente, com outros só quando jogamos um contra o outro, e em que aproveitamos para pôr a conversa em dia.
Qual ou quais são a(s) tuas(s) referência(s) no futsal?
Tenho uma grande admiração pelo Orlando Duarte, José Loução e Paulo Fernandes.
Já pude trabalhar com o Paulo Fernandes, e de facto é um exemplo a seguir, como os outros dois grandes senhores do futsal nacional.
Para o ano vamos ter um PAIVAS com aspirações ao título ou não?
O Paivas para o ano vai lutar pela melhor classificação possível, se possível melhorar a de este ano.
Não estamos sozinhos, vamos ter mais um campeonato competitivo, vamos trabalhar para podermos chegar ao fim com a consciência tranquila, que honramos mais uma vez o nosso clube e que a equipa tenha evoluído de forma significativa como o faz todos os anos que é esse o grande objectivo.
Para finalizar esta entrevista, deixa uma mensagem.
Espero que haja mais equipas a disputar o nosso campeonato.
Mais uma vez apelo á AFSETÚBAL, para ter em conta os preços a praticar, e que seja nomeada e sempre as melhores duplas de árbitros para apitarem os jogos do nosso campeonato.
Entrevista feita por José Fonseca