Vivem-se tempos difíceis no futebol filiado na Associação de Futebol de Setúbal (AFS). Nos últimos anos, vários clubes fecharam as portas ao escalão sénior e na actualidade outros emblemas da região equacionam a suspensão da sua actividade desportiva.
A culpa, dizem os dirigentes, deve-se, entre outros factores, à crise, à falta de apoios, às dívidas, aos erros do passado – quando os clubes viviam acima das respectivas possibilidades – e aos custos elevados com inscrições e policiamento.
Só neste ano dois emblemas históricos fecharam as portas ao escalão principal: Quintajense e Alcacerense. Os directores dizem ser essa 'a única forma de manter a sustentabilidade da colectividade e não comprometer a continuidade do futebol de formação e das outras modalidades'.
Menos de quatro meses depois de a suspensão ser decidida na Quinta do Anjo (Palmela), Francisco Xavier, presidente da comissão de gestão, afirma ao Correio Sport que foi tomada a melhor decisão: 'Agora as contas estão equilibradas e os problemas financeiros desapareceram. Reduzimos em 80% os custos e temos perto de 200 atletas a praticar desporto. Apenas menos 23 do que havia antes.'
SANDES E 'SUMOL'
O dirigente quintajense, que não põe de parte a possibilidade de voltar a activar o escalão sénior, vê apenas dois caminhos para o futebol amador ser viável. 'Os jogadores destas divisões têm de praticar futebol na base da sandes e do ‘sumol’. Pagar ordenados é insustentável, talvez apenas uma ajuda para as despesas de transporte', sugere, não se coibindo de apontar o dedo à Associação de Futebol de Setúbal. 'Só as inscrições e as taxas que pagávamos à Associação eram dez a 12 mil euros por ano, isto sem contar com os policiamentos. É um perfeito disparate, e acredito que qualquer dia não haja equipas nas provas.'
Xavier expressa tristeza pelo desinteresse do tecido empresarial da região, e dá um exemplo concreto. 'No ano passado fizemos a campanha ‘Amigo do Quintajense’. Enviámos 130 cartas para empresas da freguesia a solicitar um apoio de 25 euros mensais para o futebol. Houve apenas 12 adesões, das quais somente oito resistiram até ao final da época', lamenta.
SUSPENSÃO INÉDITA
Em Alcácer do Sal, pela primeira vez desde 1979, ano da fundação do Alcacerense, o clube não terá uma equipa de futebol sénior em competição. Apesar de a decisão de suspender a prática naquele escalão ter sido tomada pela direcção anterior, liderada por Nuno Martins, o actual presidente, Carlos Amaral, eleito há cerca de um mês, concorda com a medida: 'Era insustentável manter o futebol sénior com encargos tão elevados, por a maioria dos atletas ser de fora do concelho.'
O dirigente explica que tem como objectivo voltar a ter escalão sénior. 'Dentro de uma ou duas épocas, contamos voltar a ter seniores, com 75 a 80% do plantel constituído por atletas do concelho', revela, frisando que 'o clube presta um serviço público a cerca de 600 pessoas, 150 das quais no futebol'.
Com a suspensão do Alcacerense, o concelho, segundo maior do País – com uma área superior à de toda a península de Setúbal (formada por nove concelhos) –, fica agora desprovido de representantes no futebol sénior da Associação.
COMÉRCIO E INDÚSTRIA
Quase todos os clubes do distrito (sobre)vivem com tremendas dificuldades. O Comércio e Indústria, da 1ª Distrital, é um dos exemplos mais recentes.
No Campo da Bela Vista, Setúbal, os problemas são muitos. O Comércio e Indústria, com 91 anos, viu a água ser-lhe cortada. Na origem da situação está a dívida do clube, de 62 mil euros, à Águas do Sado, que remonta a 1999. 'Tentámos negociar com a empresa mas houve uma posição de prepotência. Sempre procurámos pagar esta dívida antiga mas não conseguimos fazê-lo de uma vez só', garante o presidente dos sadinos, Vasco Gonelha. A solução encontrada passa por fazer um furo de captação de água.
Entretanto, os Pescadores da Costa de Caparica, que estiveram em risco de cessar a actividade desportiva, solveram nesta semana muitas das dívidas pendentes.
Em comunicado, o clube confirmou a regularização da situação fiscal, fruto do encaixe financeiro na ordem dos 360 mil euros antecipados pela CostaPolis, no âmbito do acordo de expropriação dos terrenos do campo de futebol.
O clube, que milita na 3ª Divisão, pagou também os subsídios atrasados, prémios referentes à subida de divisão, e mais quatro meses de vencimentos, dois da última época, ficaram saldados. Quanto às Finanças, o presidente, Pedro Baptista, pagou 142 mil euros na 3ª Repartição de Almada. Montante que concluiu um pagamento global de 332 mil euros entregues ao Fisco.
VÁRIOS EMBLEMAS À DERIVA
Barreirense e CUF (actual Fabril), distintivos que têm 24 e 23 presenças no escalão principal do futebol nacional, respectivamente, militam na 3.ª Divisão. Os ‘alvi-rubros’, no antepenúltimo lugar, já não têm o Estádio D. Manuel de Mello. A venda do recinto para equilibrar as contas e montar um novo complexo obriga o clube a fazer 13 km até Sarilhos Pequenos, Moita, para actuar e poupar nas despesas.
Já o Amora, que marcou presença na 1.ª Divisão nas três primeiras épocas da década de 80, foi relegado em Maio à 1.ª Divisão Distrital. Pior está o vizinho Seixal – de 63 a 65 esteve na 1.ª Divisão –, que suspendeu em 2007 o futebol sénior devido a dívidas, penhoras e impedimento de inscrição de atletas.
O exemplo extremo foi dado a 12 de Julho de 2007, dia em que 30 sócios do CD Montijo votaram a dissolução do emblema, com quase 60 anos. Salários em atraso e dívidas ao Fisco levaram ao fechar de portas de um clube que em 1972/73, 1973/74 e 1976/77 esteve entre os grandes do futebol. Para evitar um vazio na cidade, antigos elementos da extinta agremiação fundaram uma nova – Clube Olímpico Montijo –, que foi no corrente ano promovido à 1.ª Divisão da AF Setúbal.
ASS. DE FUTEBOL DE SETÚBAL PREOCUPADA COM SITUAÇÃO...
Sousa Marques, presidente da Associação de Futebol de Setúbal, vê com 'alguma preocupação' o momento actual do futebol distrital e lembra que 'os problemas já se sentem há muito tempo' não só em relação aos históricos mas nos seniores: 'Na origem está a falta de apoios e a incapacidade dos clubes para gerarem receitas próprias.' O dirigente sublinha que o que se passa com os mais velhos contrasta com o êxito na formação, deixando um dado relevante. 'Os custos mais elevados dos seniores, por vezes, contribuem para as desistências. Por exemplo, há dois anos o custo com o policiamento era pago e devolvido quase na íntegra. Hoje é devolvido muito mais tarde, e apenas 20 a 30% do que foi pago', diz Sousa Marques, acrescentando: 'Mas acredito que a crise é passageira.'
in www.amorafc.com
TODOS OS ANOS A CRISE É SEMPRE PASSAGEIRA PARA ESTES SENHORES..... ATÉ QUANDO?????