"Quando, após o
 último Portugal x Paraguai, o seleccionador nacional Jorge Braz disse 
que “temos de começar a falar mais de nós e menos nos outros”, muitos 
não terão percebido o verdadeiro alcance desta mensagem. Nem terão 
percebido que disso depende, em grande percentagem, o sucesso ou 
insucesso do futsal português nos próximos anos.
Enquanto
 falamos dos outros, não reparamos que os outros não páram. Que os 
outros não querem saber do que dizemos. Que os outros agem. Enquanto 
continuamos a ser verdadeiros «experts» em dissertações sobre a galinha 
do vizinho, não reparamos que os outros não querem saber. Agem.
Continuamos
 a perder tempo a contar os naturalizados das selecções adversárias. 
Chamamos Brasil B a Itália e Brasil C à Rússia. Ou vice-versa. Mas não 
somos capazes de ver que tanto uma como outra Federação têm vindo a 
desenvolver, ao longo dos últimos anos, projectos importantes no futsal 
jovem. Não somos capazes de olhar para 2008 e ver que os dois países 
foram, precisamente, os finalistas do torneio sub-21 realizado na Rússia
 e que serve de antecâmara para um futuro Campeonato da Europa da última
 etapa de formação. Onde estava a nossa selecção de sub-21 em 2008? 
Ninguém sabe. Mas sabemos todos contar os naturalizados dos demais.
Em
 Itália, a saída de Nuccorini e a entrada de Roberto Menichelli e, na 
altura, também de Paolo Minicucci no pós-Mundial de 2008, deu origem a 
uma renovação profunda no futsal transalpino que está, mais do que 
nunca, virado para a formação. Poucos serão os que conhecem o épico 
projecto de formação «Scuola Calcio a 5» (em português, “Escola de 
Futsal”), coordenado por Riccardo Manno. Mas todos sabem contar os 
naturalizados.
Da
 leitura atenta da recente entrevista de Miguel Rodrigo, seleccionador 
do Japão, ao 5x4, pode perceber-se muito do sucesso espanhol dos últimos
 anos. Afirma Rodrigo: “partilhamos muito o nosso trabalho, mesmo quando
 somos rivais na Liga Espanhola, trocamos os nossos treinos, scouting, 
vídeos de jogos, planificações, etc. Serve-nos de estímulo a vontade de 
nos superarmos e sermos melhores, de uma forma amigável e isto não 
acontece em mais nenhum lugar do Mundo”. Vemos os espanhóis a falar dos 
demais? Não. Vemo-los preocupados em agir.
Estaremos
 em condições, em Portugal, de pôr de lado os desejos de um protagonismo
 rápido e individual e nos centrarmos de vez no essencial? Seremos 
capazes de deixar de criticar os outros, de perder tempo com observações
 bacocas e admitirmos que temos um longo caminho para percorrer? Seremos
 capazes de abandonar esse desporto nacional que é a maledicência e 
manter o foco em objectivos úteis e profícuos? Seremos, em suma, capazes
 de nos unir em torno do cumprimento fiel das directrizes do 
recém-lançado Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Futsal?
Não
 tenho quaisquer dúvidas de que temos potencial para vir a ganhar um 
título mundial ou europeu. Mas não o podemos exigir, por agora, aos 
jogadores e equipa técnica/directiva que tanto estão a dignificar o País
 na Tailândia. Não o podemos exigir porque, em comparação com outras 
equipas presentes na prova, não tivemos até à data uma estratégia 
nacional nesse sentido. Não trabalhamos juntos em prol desse desígnio. O
 que não nos impede, naturalmente, de sonhar com esse feito. Da mesma 
forma que os bravos comandados por Orlando Duarte conseguiram o bronze 
na Guatemala.
Temos
 pela frente anos que se adivinham duros mas que podem mudar de vez – e 
para melhor -, a face da modalidade que tanto amamos. Temos pela frente a
 hipótese de escrevermos a nossa própria história, de construirmos o 
nosso caminho respeitando e fazendo respeitar a nossa identidade. De 
ousarmos, por uma vez, ser humildes e de nos deixarmos guiar por quem – 
admitamos – sabe mais do que nós. Por quem, como Pedro Dias ou Jorge 
Braz, está por dentro dos dossiers como
 a maior parte de nós não consegue estar. Temos pela frente a hipótese 
de semear um futuro melhor para todos, se não quisermos que só o nosso 
futuro seja bom. Se percebermos que os outros podem conseguir ver o que 
não vemos. Que os outros podem ter soluções para os nossos problemas e 
que nós podemos ter soluções para os problemas dos outros. Temos pela 
frente a hipótese de ser melhores. Não porque os outros sejam maus, mas 
pelo crescimento de todos.
Isto, claro, se conseguirmos resistir à enorme tentação que é - e sempre será - a galinha do vizinho."
Fonte: 5x4.eu

 
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