A análise do Presidente da AF Setúbal à temporada
Joaquim
Sousa Marques, presidente da direcção da Associação de Futebol de
Setúbal, garante que a última época teve nota positiva. Ainda assim, em
discurso directo, o dirigente assume dificuldades nas três modalidades,
mas não hesita em elogiar a prestação das nossas selecções e não esquece
a arbitragem e a segurança nos campos.
Notícias AFS - Que balanço, global, faz da última temporada das provas organizadas pela AF Setúbal?
Joaquim Sousa Marques - Positivo. Independentemente
das dificuldades dos clubes e da conjuntura, verificou-se que não houve
um decréscimo significativo do número de atletas. As provas decorreram
com normalidade, mantiveram a competitividade e, portanto, face ao
cenário imposto pela conjuntura nacional, considero que tivemos uma
temporada positiva. Sem casos significativos, daqueles que nos deixam
tristes. Há sempre um ou outro, que lamentamos, mas nada com uma
gravidade excessiva que seja preocupante.
Principais destaques no futebol…
O nosso principal campeonato de seniores foi, mais uma vez,
competitivo quase até ao final da prova, quer pela subida quer na
discussão pela permanência.
Na segunda divisão o problema continua a ser o mesmo, ou seja a
escassez no número de equipas. No entanto, independentemente desse
facto, a prova é competitiva. A nossa análise é há muitos jovens que não
conseguem praticar o escalão de seniores. Temos procurado combater essa
realidade com algumas medidas, nomeadamente através do incentivo à
inscrição de jogadores mais jovens. Contudo, é no escalão de seniores
que se faz sentir as maiores dificuldades dos clubes.
Na formação continuamos a ter as provas muito concorridas e
competitivas. Este ano, vamos tentar fazer uma alteração no futebol de
7, no sentido de procurar que algumas das melhores não fiquem pelo
caminho mais cedo. São pequenos ajustes, que, talvez em 2015/16, venham a
assumir outra dimensão no modelo competitivo, mas que ainda estamos a
preparar.
E no futsal?
No futsal, o problema é ainda mais acentuado, em relação ao futebol,
no que respeita à escassez de equipas. Recordo que na última época só
começamos com quatro equipas seniores, numa taça. Depois conseguimos
introduzir alterações, que garantiram um campeonato para seis equipas.
Mas é, manifestamente, insuficiente. Penso que o futsal no distrito tem
capacidade para crescer, há muito mais equipas a praticar o futsal
sénior, mas que se vão espalhando por aqui e por ali, com competições
mais concelhias. Desejamos que essas equipas venham para o seio da
associação e renovem a sua dinamização, com o objectivo de engrandecer a
competição.
Confio que voltaremos uma prova distrital forte. Trabalha-se bem no
futsal. Recordo que esta época ano vamos ter uma equipa no primeiro
campeonato nacional de sub-20, que esteve presente na final-four da
competição de juniores e que diz bem do bom trabalho que os clubes fazem
na formação. É preciso aproveitar esse trabalho nos escalões seniores,
mas só será aproveitado com a possibilidade desses jovens competirem.
Consegue identificar o melhor da época?
Considero que o resultado e o corolário do trabalho dos clubes pode
ser avaliado, também, pelo desempenho das nossas selecções distritais. E
porque é significativo para nós, em função desse trabalho, destaco a
nossa vitória no torneio inter-associações em futsal feminino, em
sub-21. Somos uma associação pequena, com poucos atletas, com poucos
clubes, mas independentemente dessa realidade, conseguimos formar um bom
grupo de trabalho e atingir um feito ímpar. Além dessa proeza, não
posso deixar de acrescentar também, como corolário do trabalho dos
clubes, o excelente 3.º lugar que alcançamos no torneio “Lopes da
Silva”, em futebol sub-14. Um resultado igualmente significativo, porque
demostra que os clubes estão a trabalhar bem na formação e o reflexo
também se mede nas selecções distritais, que, ainda, no patamar do
futebol sénior, levaram o nosso nome à fase final do torneio nacional
federativo.
E no lado menos agradável?
As agressões verificadas num jogo de futebol de iniciados
(Fabril-Paio Pires) foi algo que marcou pela negativa e que desvirtua,
totalmente, o futebol que é praticado no seio da nossa associação. Fomos
igualmente confrontados com uma outra situação, completamente fora da
normalidade, como foi aquele caso de um pai armado, no campo do Montijo.
Episódios, felizmente, raros, que não se justificam em nenhuma
categoria, mas ainda menos em competições ao nível da formação.
Desejamos que não voltem a acontecer e que queremos erradicar do nosso
futebol, definitivamente. Porque o que temos de promover é o fair-play e
incutir nos nossos jovens esse tipo de valores.
Na última época, a direcção da AFS recebeu uma quantidade anormal de queixas dos clubes?
Há sempre um conjunto de questões que nos fazem chegar ao nosso
conhecimento, mas nada fora do normal. O que aconteceu esta época foi
uma maior inter-acção com os pais dos jogadores. A quantidade de
comunicações que recebemos dos pais, muitas vezes até a fazerem queixas
de treinadores e dos clubes, que é algo que não se justifica e que não
contribui de facto para um bom serviço, numa situação promovida à margem
dos clubes. É uma realidade nova. Não vou questionar se têm ou não
razão, considero é que essas coisas devem ser tratadas no seio dos
clubes.
Quanto à nossa comunicação com os clubes, temos sempre a porta aberta
para o diálogo. Não temos sempre o dom da verdade e estamos a abertos a
correcções. É desta comunicação que conseguimos fazer um futebol
melhor.
Nós procuramos fazer um trabalho de independência relativamente aos
clubes, tenham o nome que tenham, tenham a dimensão que tenham. O
importante é que as provas corram com a normalidade desejada e a
competitividade desejada.
AS NOSSA SELECÇÕES
Ainda sobre as selecções distritais. Sente que a representatividade da camisola da AFS começa a ganhar outro brilho?
Nós, anualmente, temos conseguido bons resultados com as nossas
selecções. Na época finda, foi melhor do que em anos anteriores, mas o
importante é que os clubes percebam que estas selecções existem para
mostrar o seu trabalho e o dos jovens que com eles trabalham
diariamente. Sabemos que quem veste a camisola da associação sente um
motivo de orgulho, porque é um reconhecimento e representa estar, de
facto, entre os melhores do nosso distrito.
A vitória das sub-21 no futsal sénior foi o mais importante de sempre para a modalidade e para o futsal da AFS.
Já vencemos outros torneios nacionais, mas no futsal, foi claramente o
mais importante triunfo. Quando estas jovens, que sentem tantas
dificuldades competitivas no plano regional, conseguem lutar com
selecções mais fortes, algo de muito positivo deve ser assumido.
Conseguiram formar um espirito guerreiro. Muito unidas. Sentiram muito a
honra de vestir a camisola da associação e ganharam com inteiro mérito.
Ainda no plano competitivo, como analisa o 3.º lugar da nossa selecção de futebol de sub-14?
O resultado foi brilhante. É um torneio difícil. Os miúdos estiveram,
pela primeira uma semana fora de casa. Depois é uma prova muito
exigente em termos físicos, porque há jogos todos os dias e é sempre uma
incógnita perspectivar o que pode acontecer. Estamos a falar de
iniciados de primeiro ano, grande parte deles, sem hábitos competitivos
muito apurados nos seus clubes. Esta selecção superou as expectativas.
Tiveram um comportamento exemplar, estiveram em crescendo de jogo para
jogo e foi por muito pouco que não conseguimos o acesso à final. Por um
golo! Mas foi bom. O 3.º lugar conseguido perante uma associação como a
de Lisboa que habitualmente é a vencedora do torneio, é muito meritório.
Seria, igualmente, um bom corolário, a chamada de alguns dos nossos
jovens para a convocatória da primeira selecção de sub-15 nacional.
Reflectia o valor dos nossos atletas e do trabalho dos clubes.
A AFS co-organizou pela primeira vez na sua história, nos
actuais moldes, a edição 2014 do torneio “Lopes da silva”. O que fica
desta prova de confiança da FPF?
Foi uma prova de confiança e talvez um prémio pelo trabalho que os
clubes a associação fazem em prol do desenvolvimento da formação. Para
nós foi ainda mais importante, uma vez que foi no ano em que a federação
assinala o seu centenário. Ficámos felizes, recebemos de braços
abertos, e tivemos a colaboração fundamental da Câmara de Almada, além
de todos os clubes locais, que cederam os seus campos para a prova. Não
foi fácil organizar uma prova que trouxe até nós cerca de 600 pessoas,
envolvidas em 22 equipas, mas tudo correu bem. Foi um bom momento para
promovermos o futebol no distrito. Recebemos um reconhecimento geral
pelo trabalho feito e isso deixa-nos satisfeitos.
OS CURSOS TÉCNICOS E A FEDERAÇÃO
Os regressos dos cursos de treinadores de futebol e futsal foram importantes?
Foi mau termos um longo intervalo. Em boa-hora os cursos foram
reabertos, ainda que haja coisas a melhorar. Sabíamos que havia muita
vontade das pessoas ganharem qualificação para fazerem melhor trabalho e
o resultado será refletido nos jovens e nos clubes. Foi pena no futsal
não termos conseguido avançar no II Nível.
No plano da arbitragem, a AFS continua a não ter um árbitro de futebol internacional.
De facto, não temos conseguido manter a nossa representatividade como
noutros tempos. Há árbitros que tem abandonado, pelo limite de idade, e
não temos conseguido fazer a renovação. Também as exigências são cada
vez maiores.
Todavia, a AFS através do seu Conselho de Arbitragem continua a fazer
o seu trabalho. Os núcleos continuam a colaborar e vamos acreditar no
trabalho que fazemos. Um trabalho que demora tempo.
O relacionamento institucional com a Federação está normal?
Está bom. Estamos todos unidos para trabalhar em prol do
desenvolvimento futebol . Temos vindo a trabalhar num espírito de grande
colaboração e o relacionalmente vai para além do institucional. As
pessoas conversam, há abertura e trabalhamos pelo mesmo caminho., ainda
que, naturalmente, não estejamos sempre em acordo com tudo.
TAÇA AFS PARA TODOS
Em 2014/15, a Taça AFS assume-se, pela primeira vez, como obrigatória para as equipas da I Distrital.
A partir do momento em que começou a fazer parte do nosso calendário
oficial, e porque dá um apuramento directo para a Taça de Portugal,
tínhamos que a tornar obrigatória.
Os moldes e o calendário em que a Taça AFS se disputa permite fazer
uma pré-época em competição, que creio ser muito importante. Foi uma
prova que começou com ‘pézinhos de lã’ e agora está enraizada.
A segunda edição da Taça Inter-distrital já tem data definida?
Vai ser no dia 16 de Agosto. Este ano, será disputada na Malveira, em
função da alternância estabelecida entre as duas associações, porque a
equipa representante da AF Lisboa foi o Atlético da Malveira.
A segunda distrital pode vir a ter mais equipas?
Não sei. Vamos ver a decisão de alguns clubes, que podem ver as
virtudes de participar nesta prova ao invés de outras com menos relevo.
Estamos sempre à espera que esta competição possa crescer. Sabemos que
as dificuldades continuam a existir. Não alteramos as taxas há muito
tempo, inclusivamente as taxas de arbitragem foram até reduzidas, mas
não podemos baixar mais os custos, porque os valores pagos pelos clubes
são os custos que temos com a própria organização.
Que desafios tem a AFS para o futuro breve?
Queremos crescer. Queremos ver o futebol do distrito a crescer. Somos
um distrito de futebol. Temos condições para isso. É isso que queremos
proporcionar aos clubes. Na formação, mas também voltar a ter um papel
de relevo no futebol sénior. Pensamos que os nossos jovens devem ter a
oportunidade de fazer a sua evolução natural e chegar ao seniores, sem
terem que travar a actividade depois de tantos anos ligados ao futebol,
devido à falta de equipas.
O centro de estágio da AFS é um sonho que nunca passará disso?
Temos de ter os pés assentes no chão. Sonhar não custa. Mas a
conjuntura actual não permite pensar nisso, para já. Está na gaveta, mas
não está esquecido. Vamos esperar por novas oportunidades, porque a
conjectura, de facto, não permite.