sexta-feira, julho 11, 2014

PARA LER E RELER

                                                 Artigo de Opinião de Fernando Parente 
 
Existem clubes que não renovam, outros dizem que despedem, outros ainda que fazem promessas e não as cumprem, com os Treinadores.
Seja após um, dois, três ou mais anos de trabalho que esse ou esses Treinadores tenham executado nesse clube e o tenham ajudado a crescer de forma sistemática e elaborada.
O certo é que em todos os finais de épocas, os jogos de bastidores, as jogadas sujas nas costas de quem antes se recebe palmadas, a falta de transparência e sobretudo a falta de honestidade e integridade começam a proliferar no Futsal.
Vem isto a propósito das remodelações efetuadas em alguns clubes após uma época menos conseguida, mas dentro do objetivo traçado, do clube “x”, “y” ou “z”.
Remodelações, novas apostas, existem desde sempre.
Ou porque achamos que termina um ciclo, ou porque se devem mudar mentalidades, ou mesmo porque o ato de liderar pode já não ser o mesmo de antes, mas acima de tudo deve sempre existir honestidade e integridade.
Sou Treinador, já fui jogador. Mas como em tudo na vida, os valores com que os meus Pais me educaram, são os valores com que continuo a viver no meu dia-a-dia.
Prefiro estar de cabeça erguida à espera que o telefone toque, do que apunhalar um colega ou um amigo, e fazer-lhe a cama, como se diz na gíria.
Mas voltando às remodelações. Umas vezes acontecem porque apenas queremos mudar, outras porque quem manda é levado na cantiga do “bandido”. E é com esse “bandido”, ou com esses “bandidos” que o Futsal tem de ter cuidado, porque esses servem-se do Futsal e não servem o Futsal.
A selva está instalada no futsal nacional.
E tudo porque existem homens sem “H” grande a tentar voltar a todo o custo, seja em forma de jogada de bastidores, seja em forma de conluio com Diretores, seja na forma do elogio desmedido nas páginas web.
Mas também existem e cada vez mais novos diretores, e logo com “d” pequeno. Aqueles que pouco ou nada fizeram pelo clube ou clubes em questão e que num momento de destaque, o que lhes vem à tona é a palavra vingança…, porque na generalidade dos fatos, muitas das vezes não existe a certeza do porquê da mudança. Mudam porque querem, porque acham que os treinadores não foram justos com eles noutras situações, apenas querem mudar para se acharem superiores.
Mas a fuga para a frente não costuma dar bons resultados. E não me parece ser estratégia compatível com um clube ou clubes que apregoam ser diferentes. De fato existem alguns que o são: pelo modo como praticam a integração social dos jovens da terra, pela forma como querem ajudar o clube da própria terra a evoluir e a criar história dentro do próprio concelho e algumas vezes até a nível nacional, pela maneira de ajudar atletas que por uma razão ou outra viram os seus planos de vida profissional fracassar ou que simplesmente tenham caído no esquecimento, mas quando se trata de dar exemplos concretos, é isto que vemos: ingratidão atrás de ingratidão, em relação aos diretores com d pequeno e aos treinadores que se servem do futsal.
O caricato nestes processos de remodelações, é que costumam existir umas cortinas de silêncio que impedem as pessoas de saber quem é que toma as decisões, quem é que propõe e porque propõe as mesmas, etc…, mas num mundo tão pequeno como o nosso, tudo se sabe, ou tudo se vem a saber, mais cedo ou mais tarde.
Vem isto a propósito das promessas de final de época: “contamos com todos, dizem uns”; “agradecemos tudo o que fizeste por nós este ano, contamos contigo, dizem outros”. Uma, duas semanas ou um mês mais tarde, sai a bomba nesta selva.
Ora, essas afirmações adensam mais esta problemática. Se o Presidente e o Diretor dão apoio ao treinador e este logo a seguir é trocado ou “remodelado”, quem manda afinal nos clubes? Ou será que a hipocrisia já chegou à forma como essas pessoas exercem a função?
Não vou pela tese da hipocrisia mas sim pela tese de que o Presidente e o Diretor se estão a marimbar para o que se passa no clube. Isso é questão para os amigos seccionistas ou os novos que aparecem no momento num cargo decisório, tratarem à sua maneira. Depois, se despedimos ou trocamos mais um treinador ou não, se mostramos a nossa ingratidão e falta de inteligência, isso já não interessa. Interessa manter a estrutura de poder que começa no seccionista. É o seccionista que conta. Não o treinador.
O que fica claro é que a treta da máquina de propaganda de quem gravita à volta do clube ou clubes, anda a vender aos adeptos de que este Treinador é melhor que aquele e não vendem mais do que isto: tretas.
Os fatos mostram que o Presidente/Diretor não se interessa com os princípios de grandeza que deviam nortear a gestão e evolução do clube ou clubes dentro da sua própria realidade. Ele apenas se interessa por estar numa posição de destaque, mesmo que não seja para mostrar aos demais que a cadeira do poder é sua, por muito pouco poder que venha a ter nas decisões futuras do clube que preside.
O que eu pretendo com isto é basicamente evidenciar que são expectáveis os erros que por vezes se cometem nos clubes, trocando um treinador conhecido, com títulos e currículo, por um desconhecido ou conhecido que nada mais quer fazer do que se servir do clube em questão e que aparece patrocinado por este ou aquele diretor ou ex-jogador que agora tem importância máxima nas capacidades de decisão do clube.
O artigo pretende mostrar que, se uma pessoa que vive a mais de 400 km da capital consegue antecipar que a troca do treinador ou treinadores, naquele contexto desportivo, naquelas condições, ia prejudicar o clube ou clubes, os seus sócios e adeptos, como é que os iluminados responsáveis do Clube não perceberam também?
Não sou bruxo, não leio cartas, não elogio clubes adversários ou pelos quais já passei só para se lembrarem de mim. O problema desta selvajaria no futsal é aquilo que eu apelido de problema clássico (maus resultados desportivos), resolvido da mesma forma (troca do treinador), que regra geral tem um resultado também clássico: piores resultados desportivos.
Seja no clube “x”, no “y” ou no “z”, ou em qualquer outro clube, esta é uma regra geral com pouquíssimas exceções!
O erro que se comete na resolução desses problemas “clássicos” tem a ver com a sistemática incapacidade de se avaliar adequadamente a qualidade do trabalho realizado por essa equipa técnica e esse conjunto de jogadores.
À pergunta: “Seria possível melhorar as prestações desportivas com esses jogadores, face à realidade competitiva atual de adversários que todos os anos se apetrecham e investem mais no Futsal e face às arbitragens que nos prejudicaram?”
Os iluminados que gerem o clube ou clubes respondem que “sim”. Não estranharia até que existisse algum ambiente conspirativo em torno desse Treinador que agora sai, “por ter vindo daquele clube, porque é correto e não se deixa levar na cantiga de jogadores irresponsáveis, etc”, por parte dos que tendo perdido a noção de tempo e espaço, continuam a viver à sombra de êxitos antigos, mas que continuam vincados nas memórias de quem tem uma memória precoce!
Ora assumindo que “sim”, que era possível melhorar, então concluem que o problema é o treinador, porque foi o único a sair. Correto? Bom, depois vem o tal novo treinador, com a tal nova estrutura técnica e, não se dando conta dos problemas que o ex-treinador teve que superar, acabam por obter o que se esperava: piores resultados.
Porque razão é tão importante esta questão na equipa sénior do Futsal, dirão uns?
Mais título menos título, que interessa isso quando se ganhou nos juniores, nos juvenis ou mesmo nos iniciados e infantis? Pois esta forma de pensar é errada. Eu pelo menos nunca penso no que ganhei, mas no que podia ter ganho e no que posso vir a ganhar. E acho que num clube ou clubes que tem vindo a escalar posições nos nacionais da modalidade, clubes ganhadores, é assim que tem de se pensar. Menos que isso é conformarmo-nos com a mediocridade.

Por outro lado o interesse do tema deriva do facto de tudo que aconteceu no Futsal sénior aconteceria no de Formação se a Direção tivesse feito o mesmo quando os movimentos de opinião alimentados quer pela comunicação social, quer por uns supostamente bem pensantes bloguistas ou facebookianos, ou mesmo pelos adeptos que só querem o mal dos clubes quando pediam sucessivamente a demissão do Treinador, quando ele “apostava demais naquele jogador de fora”, quando “não se percebia o que via no jogador “a” ou no jogador “b”, ou quando perdeu jogos que não devia nem merecia ter perdido?
Foram alturas em que se viu um certo lirismo de uns quantos opinógrafos clubistas, opinógrafos da mesma natureza dos que comandam as equipas nos clubes, dos que não estudam a natureza dos resultados, não interligam a ação/decisão com o resultado/consequência por falta de capacidade de síntese, e que ainda ficam aborrecidos quando os rotulo de intelectualmente limitados.
Porque são mesmo, por mais textos e mensagens floreadas e sem “sumo” que publiquem em blogues, no Facebook ou nos Mídias Desportivos.

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